
Perceber o que é esta Solidariedade Social é um problema complicado. A consciência moral do regime (leia-se José Pacheco Pereira) reflecte que a Caridade a que Jonet se refere carece de humanismo. Está bem visto. A Caridade Cristã é um reflexo sobre-humano. A Solidariedade Social, por seu turno, é uma posição que encontra a sua fundamentação na percepção dos homens sobre a sua igualdade. A Caridade tem um fim, emular o sentido da Natureza criada. A Solidariedade tem o simples propósito de regular as relações entre os homens com o objectivo de os manter coesos, de manter a unidade política. A questão é perene: a virtude que não pretende obedecer a um sentido cósmico é algo mais que auto-interesse?
A Igualdade do género humano, em que se funda este humanismo, a que todo o ideário moderno aderiu é um axioma a que ninguém poderá aceder sem uma régua para proceder à sua medição. E quando o próprio indivíduo tem a liberdade de escolher, segundo a sua própria narrativa e disposição, qual o compasso que servirá para o efeito, ter-se-á de aceitar, em Democracia, todos os resultados. JPP e o regime não se questionam sobre a forma como um regime que não se funda em nada, pode aceitar a exclusão de certos argumentos. E assim, ficamos todos num ponto de discussão sobre a igualdade, cada um com uma régua em que cada um inseriu, segundo o seu próprio arbítrio, os números e as medidas. O Homem já não é a medida de todas as coisas. Cada homem é a medida de todas as coisas.
Talvez seja demasiada benevolência esperar que seja isto de que Isabel Jonet está a falar. De como qualquer critério de igualdade que não se funda em norma exterior a si próprio, é inválido na definição de um carácter, do valor do mesmo. Tem pelo menos o mérito de ser o grão de areia numa engrenagem que não reflecte sobre si mesma.
Ao contrário do que JPP afirma, fazer a apologia da Caridade não é aderir ao paraíso privatista do liberalismo presente. Se isso é verdade num pano de fundo liberal, em que a Caridade é vista como a solução social para a redistribuição dos bens, numa sociedade organizada em princípios, não o será numa comunidade que não se funde na neutralidade do Estado e adopte, de facto, a soberania do Bem.
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